terça-feira, 21 de setembro de 2010

PIRATARIA CHING-LING

Folha de São Paulo visita reduto de fábricas clandestinas na China que exportam Havaianas e Melissas falsas para todo o mundo.
As sandálias não se deformam, não soltam tiras e não têm cheiro. Mas essas Havaianas não são as legítimas. São as da empresa chinesa Bright Coast, que mantém um site "oficial" da marca em inglês e chinês, pode produzir até 500 mil pares mensais e exporta um dos produtos-símbolo do Brasil para a África e o Oriente Médio.
"Só não conseguimos ainda reproduzir a lista lateral reta", admite o funcionário da Bright Coast, no amplo escritório da empresa em Xiamen, sul da China, ao mostrar vários modelos de Havaianas falsas.
A Bright Coast é só uma das dezenas -provavelmente centenas- de fábricas no sul da China que, nos últimos anos, diversificaram de nomes mais famosos, como Nike, e agora produzem também imitações das brasileiras Melissa, Ipanema e Mormaii, além das Havaianas.
A reportagem da Folha de São Paulo se apresentou como compradora de marcas brasileiras piratas em quatro cidades da Província de Fujian.
Encontrou uma ampla cadeia produtiva, que envolve de grandes empresas legalizadas a pequenas fábricas familiares, dezenas de milhares de funcionários e um sistema sofisticado de venda para praticamente qualquer parte do mundo. Tudo com certa conivência oficial.
Entre as brasileiras, a mais copiada são as Havaianas. Na Bright Coast, as sandálias vêm em embalagem e, numa etiqueta com holograma, se lê: "Apenas as legítimas Havaianas têm este selo de autenticidade. Não seja enganado por cópias".
O preço por unidade é de 8 yuans, o equivalente a R$ 2, incluindo a tramitação pelo porto de Guangzhou, o mais fácil para passar pirataria. O valor é um décimo do cobrado no site oficial das Havaianas verdadeiras pelo mesmo modelo.
O negócio é feito de forma aberta. No site, há uma breve explicação da história das Havaianas e até fotografias da fábrica. O dono, Liao Gui Long, controla uma firma de eventos e é o vice-presidente da associação de empresas de propaganda de Xiamen.
A Bright Coast tem rivais. Cópias mais baratas e menos sofisticadas são facilmente encontradas nas dezenas de lojas de fábrica em Jinjiang -vizinha a Xiamen. Em apenas uma hora, a reportagem encontrou cópias de Havaianas e Ipanema em seis lojas.
Em uma delas, a vendedora oferece cópia em PVC das Havaianas, no atacado, por 6 yuans (R$ 1,50). Seu mercado, diz, são as Filipinas, para onde exporta alguns milhares todos os meses. "É um país quente, e essas sandálias duram três meses." Qual é capacidade de produção mensal? "Milhões", e sorri.
* Enviado especial à Província de Fujian (China)

21/09/2010
Fonte: Folha de São Paulo

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