terça-feira, 21 de setembro de 2010

IMPORTAR MAIS DO QUE EXPORTAR É PERIGO ECONÔMICO

O Brasil está importando muito mais do que exporta. E o pior dessa combinação fatal é que estamos enviando para o exterior commodities e trazendo produtos industrializados, com alto valor agregado.
Deveríamos equilibrar essa combinação, mas está ocorrendo uma volta ao passado, quando vendíamos café, minério de ferro e produtos agrícolas sem qualquer beneficiamento, recebendo pouco e pagando alto pela tecnologia dos Estados Unidos, da Europa e do Japão.
Dessa forma, não surpreende saber que pela primeira vez o número de empresas importadoras brasileiras será mais que o dobro do total de companhias exportadoras.
De janeiro a julho deste ano, ingressaram no comércio exterior 3.883 companhias especializadas em importação. O dado é da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), com base nos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Esse número é quase o equivalente ao total de novas importadoras registradas no ano de 2008, quando eram 4.214. Também é quatro vezes maior que o total de novas importadoras, 889, atingido entre janeiro e dezembro de 2009. No ano passado, o número de empresas importadoras caiu porque o consumo foi afetado pela crise.
Mercado interno aquecido e câmbio favorável às importações explicam o ritmo frenético de ingresso de novas importadoras no mercado, segundo o vice-presidente-executivo da AEB, José Augusto de Castro. Mesmo que técnicos do governo afirmem que esse é o resultado natural de processo de internacionalização da economia, é um problema que poderá nos custar caro logo adiante.
Além do câmbio favorável às compras externas por causa dos juros altos que atraem dólares e derrubam o real, outro fator explica o fenômeno, o fato de que muitas empresas, como supermercados, que importavam por meio de tradings, hoje compram no exterior por conta própria.
O número de importadoras neste ano será recorde, trazendo forte desequilíbrio da balança comercial e, ao final, das contas externas. O pico anterior foi atingido em 1997. Naquele ano, o dólar estava abaixo de R$ 1,00 e o consumo doméstico aquecido. O ano de 1997 terminou com 37.852 importadoras.
De janeiro a julho, o total de importadoras é 31.812. Como o Rio Grande do Sul é um estado exportador, o problema nos atinge em cheio. As eleições não permitem medidas fortes até outubro, mas tão logo o País saiba quem é o novo presidente a equipe econômica atual, em comum acordo com a futura, seja ela diferente ou a mesma, terá que tomar medidas para reequilibrar as importações com as exportações.
O câmbio é o principal fator, porém, é também consequência, uma vez que resulta da enxurrada de dólares que chegam ao País em busca tanto de investimentos diretos quanto em aplicações na bolsa e fundos.
Ora, quanto mais dólares tivermos de maneira um tanto quanto artificial – com os altos juros pagos – o real ficará sobrevalorizado, hoje em torno de 30%.
É imperioso um novo modelo para que em 2011 o Brasil não tenha um déficit nas contas externas ainda maior do que terá, inexoravelmente, em 2010. Cada vez mais se aplica a máxima de Delfim Netto, segundo a qual exportar é o que importa.
Mas vender mais e comprar ou gastar menos no estrangeiro é o ideal, pois hoje até a conta do turismo nos traz pesado déficit.

21/09/2010
Fonte: Jornal do Comércio – RS

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