quinta-feira, 16 de setembro de 2010

GOVERNO VAI COMPRAR DÓLARES DA PETROBRAS

As medidas com as quais o governo pretende evitar uma excessiva valorização do real vão incluir a compra de dólares que entrarem no País com a operação de capitalização da Petrobras, segundo adiantou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele disse estar preocupado com iniciativas que outros países, como o Japão, estão tomando para desvalorizar suas moedas. "Queremos que todos saiam da crise, mas não às nossas custas", disse o ministro.
Como exemplos de medidas para evitar uma volatilidade maior na cotação do dólar no Brasil, ele citou as compras já realizadas com frequência pelo Banco Central e "instrumentos prudenciais, como limitação a risco cambial". Segundo o BC, as reservas internacionais aumentaram US$ 1,887 bilhão na terça-feira. Com a elevação, o montante passou de US$ 263,252 bilhões para US$ 265,139 bilhões no conceito de liquidez internacional. Esse é o maior aumento das reservas num único dia desde 8 de outubro de 2009, quando o montante havia crescido US$ 5,021 bilhões em apenas um dia. O aumento observado na terça-feira é resultado da compra de dólares realizada pela autoridade monetária na sexta-feira passada.
No que diz respeito à capitalização da Petrobras, marcada para 30 de setembro e que pode chegar a R$ 150 bilhões, o ministro mandou um recado claro ao mercado financeiro. "Vamos enxugar qualquer excesso de dólar que possa entrar com a operação da Petrobras. Vamos comprar tudo, já estou avisando", disse em entrevista na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), depois de abordar o tema cambial em palestra.
"O governo tem cacife suficiente para enfrentar qualquer eventual entrada de recursos com essa operação. Podemos bancar qualquer limite", emendou Mantega. O poder de fogo para as compras, segundo ele, está nas mãos do Banco Central e do Fundo Soberano do Brasil (FSB), um conjunto de reservas acumuladas ainda não utilizadas e que podem servir a situações como essa.
O FSB foi criado por lei em dezembro de 2008 e está vinculado ao Ministério da Fazenda. Tem como atribuições fazer investimentos no Brasil e no exterior, formar poupança pública, combater os efeitos de eventuais crises econômicas e "auxiliar nos projetos de interesse estratégico do País no exterior". Desde o final de 2009, quando foi regulamentado, o governo está autorizado a aplicar os recursos do Fundo no mercado interno de câmbio. Mantega explicou que o FSB, um colchão de segurança para o País, poderá ser acionado para conter a valorização do real.
Apesar da enfática promessa de evitar que a cotação do dólar caia mais no País, o ministro garantiu que o governo não trabalha com um piso para a moeda. "Não há piso, o que se evita é a volatilidade. Mantemos o câmbio flutuante, apesar de outros países não fazerem o mesmo."
Além das intervenções para conter o real, o ministro também adiantou que, dentro de, no máximo, um mês e meio, o governo vai anunciar medidas para estruturar o financiamento dos investimentos privados no País. Ele não revelou quais serão as medidas, mas disse que o objetivo é dinamizar o mercado de capitais e criar um mercado de crédito imobiliário, além de estimular a poupança externa do setor privado.
Segundo o ministro, que está preocupado com a adequação da estrutura de financiamento ao forte volume de investimentos, "é preciso modernizar a estrutura de financiamento, o Bndes não pode carregar tudo nas costas, o setor privado também tem de participar e tem de ter atratividade para isso".

16/09/2010
Jornal do Comércio – RS

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