A
tradicional feijoada brasileira também é meio chinesa. O avanço do
gigante asiático no mercado mundial vai além dos tablets, eletrônicos e
das bugigangas que invadiram camelôs e lojas. Até abril deste ano, 44%
das 78,2 mil toneladas de feijão-preto importado pelo País vieram da
China, fatia quase equivalente à da Argentina (48%), velho fornecedor do
grão.
A China nem aparecia nas compras externas brasileiras de feijão-preto
seis anos atrás. Já em 2011, o feijão chinês era 33% das importações.
E, só em abril deste ano, a participação atingiu 72,9%, apontam os dados
do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
elaborados pela Federação da Agricultura do Estado de Paraná (Faep).
A China estreou para valer no mercado brasileiro de feijão-preto em
2008, quando houve quebra na safra nacional e na produção argentina. De
lá para cá, os volumes cresceram, impulsionados pelo câmbio favorável às
importações e preços competitivos. “Com condições climáticas favoráveis
à produção, a China identificou também uma boa oportunidade de mercado
para se transformar em fornecedor de países como Brasil, México e
Estados Unidos”, observa a economista da Faep, Tania Moreira.
Tanto é que, em 2008, a China se tornou o principal exportador
mundial de feijão com vendas externas de 960 mil toneladas, posição
confirmada no ano seguinte com 1,046 milhão de toneladas, segundo os
últimos dados disponíveis da FAO, órgão das Nações Unidas para
agricultura e alimentação.
A importância que o produto chinês ganhou no mercado brasileiro já
apareceu nos números dos grandes processadores do grão. Mais de 90% do
feijão-preto beneficiado hoje pela Broto Legal Alimentos vêm da China.
Na Camil Alimentos, a totalidade de 1 mil toneladas mensais de
feijão-preto empacotado é importada. Metade vem da China e a outra
metade, da Argentina.
“Nossa preferência sempre foi pelo feijão-preto produzido aqui, onde
tivemos ótimas safras”, afirma o diretor da Broto Legal Alimentos, Hugo
Fujisawa. Ele conta que cinco anos atrás a Argentina dominava as
exportações para o Brasil. Aproveitando a quebra de safra nacional e a
falta de competitividade do feijão argentino, o grão chinês começou a
ser testado pelos empacotadores. O baixo custo, o dólar favorável à
importação e a qualidade aperfeiçoada transformaram o grão chinês em
rival imbatível diante do feijão-preto brasileiro e do argentino,
explica.
O diretor de suprimentos da Camil, José Rubens, também diz que a
preferência da sua empresa é pelo feijão nacional, observando a
qualidade do produto e os preços compatíveis com o mercado. “No entanto,
há alguns anos a produção nacional tem ficado abaixo da demanda, o que
nos obrigou a recorrer à importação.”
Rubens destaca que os chineses, mestres na comercialização de
produtos em geral, detectaram a oportunidade de abastecimento nos países
consumidores de feijão, e trataram de melhorar a qualidade. “Hoje o
feijão-preto chinês é tão bom quanto o produto argentino. A China
conseguiu desenvolver variedades de feijão-preto consumidas nos
principais mundiais (Brasil, México e Estados Unidos) com boa
produtividade e baixo custo “, observa Fujisawa, da Broto Legal.
Mesmo sujeito ao Imposto de Importação de 10%, o preço no atacado da
saca de 60 quilos de feijão-preto vindo da China é cerca de 20% menor do
que o produto brasileiro e perto de 15% abaixo do valor do grão
argentino, diz Nilson Pietrobom, gerente do atacadista Pietrobom
Cereais, que fica em Prudentópolis (PR), a capital brasileira do
feijão-preto.
Na semana passada, por exemplo, a saca do produto nacional no Paraná
estava cotada a R$ 110, o argentino custava R$ 95 e o chinês saía por R$
90. Pietrobom diz que a mão de obra barata na China faz diferença no
preço. “Lá não tem máquina, tudo é escolhido à mão.” Além disso, o custo
do frete é bem menor. As informações são do jornal O Estado de São
Paulo.
Fonte: Jornal do Comércio
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