segunda-feira, 18 de abril de 2011

Brasil corre riscos, diz diretor do FMI

Aquecimento da economia poderá levar País à recessão e à crise financeira

O Brasil está no início de um processo “delicado” de inflação de demanda, de dependência de capital estrangeiro, de ampliação do déficit em conta corrente e de excessiva expansão de crédito. Não chegou ainda a acender a luz vermelha, admitiu Nicolas Eyzaguirre, diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Hemisfério Ocidental e ex-ministro de Finanças do Chile.

Mas se não controlar esses fatores, motivados pelo superaquecimento da economia e pelos fluxos excessivos de capitais, o Brasil poderá mergulhar em recessão e em crise financeira. Sobretudo, se for exposto a um choque de petróleo e à alta inesperada de juros nos Estados Unidos.

“Nem o Brasil nem outros países da América Latina estão ainda em uma zona vermelha. A gestão da economia é melhor do que no passado. Mas nos preocupa o fato de a magnitude dos impulsos externos ser muito maior, afirmou Eyzaguirre, em entrevista ao Estado.

“Nunca tivemos dois a três anos seguidos de taxas de juros próximas a zero nos países industriais e, simultaneamente, preços recordes de commodities. Portanto, os riscos do superaquecimento são muito grandes.”

Os alertas de Eyzaguirre indicam a preocupação do FMI com os rumos da política econômica brasileira e de outros países da região, como a Argentina. O fato de o Brasil ter batido no teto de sua capacidade produtiva e caído na tentação do endividamento privado externo, trouxe especiais ameaças nos campos da inflação e da estabilidade de seu sistema financeiro.

Essas preocupações foram admitidas pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em eventos paralelos à reunião de primavera do Fundo Monetário, na sexta-feira.

Eyzaguirre, entretanto, foi mais específico do que a autoridade monetária brasileira ao apontar os efeitos mais temíveis dessas duas ameaças. Conforme alertou, não há outra forma de controlar a inflação de demanda sem recessão.

Juros. Da mesma forma, uma elevação brusca de taxas de juros nos Estados Unidos poderá impactar de forma severa o sistema financeiro brasileiro, que se beneficiou da bonança dos fluxos externos de capitais para promover a expansão de créditos, se não houver ajustes o quanto antes.

“A crise dos anos 80 e dos Estados Unidos, em 2008, foi macroeconômica e financeira. Quando isso acontece, demora-se mais para sair da crise e para recuperar a economia”, advertiu o diretor do Fundo.

A atenção do FMI também está voltada ao manejo das áreas externa e fiscal brasileiras. O Fundo prevê déficit em conta corrente de 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Em 2012, o porcentual negativo será de 3,0% e, em 2016, subirá para 3,6%.

Ou seja, o balanço das trocas de bens e de serviços com o exterior começou a se deteriorar em um momento de preços recorde nas exportações. O risco apontado por Eyzaguirre é sério.

O aumento de preços do petróleo ou mesmo dos juros nos Estados Unidos certamente produzirá um “choque muito forte” – a queda acentuada e brusca dos preços das commodities exportadas pelo País ampliará o déficit externo e haverá escassez de moedas estrangeiras e fuga de capitais.

No caso das contas públicas, o FMI faz um mea-culpa de suas intervenções na política fiscal do Brasil e de outros países no passado. Mas não descarta seu “dever” de apontar os limites e os riscos.

O ajuste fiscal anunciado pela presidente Dilma Rousseff foi considerado bem vindo.

Porém, Eyzaguirre recomendou às autoridades vigilância sobre a capacidade de esse ajuste contribuir para um crescimento menos acelerado da economia.

Custeio. Com o cuidado de não recair em uma avaliação do aumento das despesas de custeio da máquina pública nos últimos anos, ponderou ser mais interessante cortes nessa área do que nos investimentos públicos.

“Grosso modo, o Brasil e a América Latina tiveram níveis de investimentos públicos menores do que nos países emergentes com dinâmica econômica sustentável nos últimos 30 anos, como os do Sudeste da Ásia”, afirmou o diretor do FMI. “O investimento público mais alto é algo desejável em períodos de crescimento maior. Se for viável, será preferível”, completou.

17/04/2011
Fonte: O Estado de São Paulo

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